Alegria no serviço cristão.
Terceira Igreja Batista do Plano Piloto
Escola Bíblica Dominical - Lúcio Cesar Silva de Menezes
A
humildade de Paulo fica manifesta no presente texto ao se referir aos
problemas graves que enfrentou de forma genérica e superficial - as
coisas pelas quais passei. Um olhar desatento pode imaginar que os
problemas e aflições de Paulo sejam insignificantes. Entretanto,
é importante lembrar que as dificuldades vividas pelo apóstolo foram
intensas e graves, representando sério risco de morte e destruição do
ponto de vista humano. Sofreu
falsas acusações (At. 21:26-28), quase foi linchado, ficou preso,
esperou muito tempo até que seu caso pudesse ser examinado, foi
injustamente provocado e insultado (At. 24), foi marcado para morrer
(At. 23:12), foi mantido preso para dar popularidade ao governante de
plantão (At. 24:27), antes do naufrágio, os soldados resolveram
mata-lo (At. 27:42), sobreviveu a um naufrágio, foi picado por uma
cobra (At. 28:1-6). Ter
problemas, entretanto, não é a questão mais importante. Talvez por
isso Paulo tenha resumido suas dificuldades com a expressão "as
coisas que me aconteceram". O diferencial é que atitude tomar
diante dos problemas. Paulo optou por reconhecer a soberania de Deus
sobre todas as situações vividas e colocou seu sofrimento
dentro de uma perspectiva correta. Para
ele, o importante é que as dificuldades contribuíram para o progresso
do evangelho. Em
vez de se lamuriar, de murmurar ou praguejar, Paulo se alegra ao
perceber que é instrumento divino no crescimento do evangelho, usado
segundo o propósito e forma escolhida por Deus. Não passa por
dificuldades por acaso (ou descaso de Deus), mas percebe que se enquadra
em um plano maior e perfeito. No
chamado de Paulo, Deus diz que o usará para falar a gentios e aos reis.
Percebe-se, vários anos depois, que a oportunidade de falar aos reis
vem de um modo não convencional - Paulo tem acesso à guarda pretoriana
e ao rei na condição de preso! Estar preso não é honroso para ninguém,
muito menos para um apóstolo. Mas o testemunho firme de Paulo contribui
para dar consistência ao evangelho pregado. As
notícias que se espalham na Casa de César mostram que a prisão do apóstolo
era motivada por razões religiosas e não políticas ou criminais.
Sendo assim, a prisão não depôs contra o seu testemunho, ao contrário,
elevou sua estatura de pessoa coerente e firme naquilo que crê. Entre
os reflexos positivos da prisão, o texto apresenta:
É
interessante que a prisão deveria, em princípio, amedrontar as
pessoas. Os líderes judeus (At. 28:21) até acharam melhor não
interferir no caso de Paulo com medo das conseqüências. No entanto, a
atitude positiva e firme de Paulo falou mais alto. Conforme as notícias
circulavam na cidade, os crentes ficavam mais encorajados a discutir a
questão e a falar do poder de Deus. Outro
aspecto interessante começa a ser delineado no verso 15. Entre os incrédulos
a prisão do apóstolo estava repercutindo positivamente. Entre os crentes, entretanto, Paulo faz uma distinção que não deveria ocorrer: 1.
os que pregam o evangelho de Cristo com amor e de boa vontade, 2.
os que pregam por inveja (ciúmes), interesses pessoais,
contendas (briguentos) e sem sinceridade. As
motivações do primeiro grupo eram puras e traduziam um respeito pelo
pregador que lhes tinha ensinado sobre o evangelho. Demonstravam
consideração pelo apóstolo e evangelizavam com determinação,
buscando ser solidários em seu sofrimento. Pregar
motivado por amor é, em primeiro lugar, faze-lo com humildade e sentido
de serviço. O amor não busca seus próprios interesses, mas o que
agrada ao outro. São pessoas que não se deixam dominar por picuinhas,
não brigam por aspectos secundários do ministério, não são vaidosos
e não estão preocupados em ser melhores do que outros no que fazem. Não
perdem tempo se comparando com outros, mas desejam usar corretamente os
dons recebidos de Deus. Sabem
que a conversão é resultado de um trabalho de equipe, onde uns
plantam, outros regam e alguém colhe. Sabem, especialmente, que o
convencimento do pecado é feito pelo Espírito Santo, nada valendo
nossa habilidade de comunicação ou carisma pessoal. É
importante lembrar, entretanto, que o segundo grupo não era formado por
pessoas que não criam no evangelho nem por falsos mestres ensinando
heresias. Embora
com motivações pouco nobres, eram crentes que proclamavam Cristo como
Senhor. Provavelmente
não "se davam" muito bem com Paulo. Poderiam ser outros líderes
que, vendo Paulo preso, pensaram em aproveitar a oportunidade para
aparecer mais e tentar mostrar que podiam ser mais importantes para o
evangelho. Talvez já houvesse "grupos", partidos, linhas
ministeriais diferentes na época. Dr.
Deffinbaugh[1] chama a atenção para
alguns aspectos importantes:
[1]
Deffinbaugh, Robert L., To live is Christ: A study of the book of
Philippians. Biblical Studies Press. 2000 |
Quantas
vezes não "pedimos oração" por alguém como forma de
espalhar seus fracassos ou pecados? Se sabemos de dificuldades ou lutas
de outros, quantas vezes não nos apressamos em "compartilhar para
edificação" com o máximo de pessoas possível? Qual
a motivação prevalente em tais casos? A restauração da pessoa ou a
divulgação de seu erro? Lamentamos sinceramente seu fracasso ou nos
alegramos com a queda "desse santinho"? Mas, atenção! Lembre que tais crentes pregavam Cristo. Por isso Paulo se alegra, mesmo sabendo que muitos tentam aumentar seu sofrimento na prisão. Tais líderes achavam que Paulo ia ficar amargurado em vê-los tomando seu lugar na atenção das igrejas e do povo. F.
F. Bruce ensina: "Mas que se dirá daqueles cuja pregação não se originava de motivos
sinceros, mas de um espírito de contenda, não sinceramente? É
evidente que sentiam ciúmes do desempenho e prestígio de Paulo, como
pregador do evangelho. Fosse o que fosse que Paulo fizesse, eles
conseguiriam fazer melhor; estavam dispostos a provar que não ficariam
atrás de Paulo em nenhuma realização, em nenhum aspecto. Eles
julgavam (e esperavam) que as notícias a respeito do que estavam
fazendo haveriam de encher Paulo de desgosto e frustração. (...) Porém,
se pensaram que Paulo ficaria perturbado, ou ressentido, é que não
conheciam este homem. Se fossem muito bem sucedidos na propagação do
evangelho, isso seria o maior bem aos olhos de Paulo. O maior interesse
de Paulo era que a mensagem salvadora, 'que a palavra do Senhor se
propague e seja glorificada'(2 Tess. 3:1)."[1] Paulo
não se alegraria se a pregação fosse de "outro evangelho".
O que está em jogo aqui é que as motivações do pregador (qualquer
crente) não são superiores à Palavra de Deus. Pregado o verdadeiro
evangelho, ainda que por pessoas falhas e imaturas, o poder de Deus se
manifesta e salva pessoas. De outro lado, se pregado um evangelho
falsificado, nem mesmo sendo feito em nome de qualquer apóstolo
importante será aceitável diante de Deus. Deffinbaugh,
já citado, relaciona três lições que podem ser aprendidas a partir
desse texto:
|
Estudo anterior Próximo estudo
Visite o ReVendo Família Ribeiro de Menezes Terceira Igreja Batista
Esta
página foi visitada vezes.