FILIPENSES

Alegria no serviço cristão.

Terceira Igreja Batista do Plano Piloto 

Escola Bíblica Dominical - Lúcio Cesar Silva de Menezes


12 E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho;

13 de modo que se tem tornado manifesto a toda a guarda pretoriana e a todos os demais, que é por Cristo que estou em prisões;

14 também a maior parte dos irmãos no Senhor, animados pelas minhas prisões, são muito mais corajosos para falar sem temor a palavra de Deus.

15 Verdade é que alguns pregam a Cristo até por inveja e contenda, mas outros o fazem de boa mente;

16 estes por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho;

17 mas aqueles por contenda anunciam a Cristo, não sinceramente, julgando suscitar aflição às minhas prisões.

18 Mas que importa? contanto que, de toda maneira, ou por pretexto ou de verdade, Cristo seja anunciado, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei;

A humildade de Paulo fica manifesta no presente texto ao se referir aos problemas graves que enfrentou de forma genérica e superficial - as coisas pelas quais passei. Um olhar desatento pode imaginar que os problemas e aflições de Paulo sejam insignificantes.

Entretanto, é importante lembrar que as dificuldades vividas pelo apóstolo foram intensas e graves, representando sério risco de morte e destruição do ponto de vista humano.

Sofreu falsas acusações (At. 21:26-28), quase foi linchado, ficou preso, esperou muito tempo até que seu caso pudesse ser examinado, foi injustamente provocado e insultado (At. 24), foi marcado para morrer (At. 23:12), foi mantido preso para dar popularidade ao governante de plantão (At. 24:27), antes do naufrágio, os soldados resolveram mata-lo (At. 27:42), sobreviveu a um naufrágio, foi picado por uma cobra (At. 28:1-6).

Ter problemas, entretanto, não é a questão mais importante. Talvez por isso Paulo tenha resumido suas dificuldades com a expressão "as coisas que me aconteceram". O diferencial é que atitude tomar diante dos problemas. Paulo optou por reconhecer a soberania de Deus sobre todas as situações vividas e colocou seu sofrimento dentro de uma perspectiva correta.

Para ele, o importante é que as dificuldades contribuíram para o progresso do evangelho. 

Em vez de se lamuriar, de murmurar ou praguejar, Paulo se alegra ao perceber que é instrumento divino no crescimento do evangelho, usado segundo o propósito e forma escolhida por Deus. Não passa por dificuldades por acaso (ou descaso de Deus), mas percebe que se enquadra em um plano maior  e perfeito.

No chamado de Paulo, Deus diz que o usará para falar a gentios e aos reis. Percebe-se, vários anos depois, que a oportunidade de falar aos reis vem de um modo não convencional - Paulo tem acesso à guarda pretoriana e ao rei na condição de preso! Estar preso não é honroso para ninguém, muito menos para um apóstolo. Mas o testemunho firme de Paulo contribui para dar consistência ao evangelho pregado.

As notícias que se espalham na Casa de César mostram que a prisão do apóstolo era motivada por razões religiosas e não políticas ou criminais. Sendo assim, a prisão não depôs contra o seu testemunho, ao contrário, elevou sua estatura de pessoa coerente e firme naquilo que crê.

Entre os reflexos positivos da prisão, o texto apresenta:

  • irmãos ficaram mais corajosos

  • mais animados

  • não envergonhados

  • com confiança e sem medo

É interessante que a prisão deveria, em princípio, amedrontar as pessoas. Os líderes judeus (At. 28:21) até acharam melhor não interferir no caso de Paulo com medo das conseqüências. No entanto, a atitude positiva e firme de Paulo falou mais alto. Conforme as notícias circulavam na cidade, os crentes ficavam mais encorajados a discutir a questão e a falar do poder de Deus.

Outro aspecto interessante começa a ser delineado no verso 15. Entre os incrédulos a prisão do apóstolo estava repercutindo positivamente.

Entre os crentes, entretanto, Paulo faz uma distinção que não deveria ocorrer:

1.      os que pregam o evangelho de Cristo com amor e de boa vontade,

2.      os que pregam por inveja (ciúmes), interesses pessoais, contendas (briguentos) e sem sinceridade.

As motivações do primeiro grupo eram puras e traduziam um respeito pelo pregador que lhes tinha ensinado sobre o evangelho. Demonstravam consideração pelo apóstolo e evangelizavam com determinação, buscando ser solidários em seu sofrimento.

Pregar motivado por amor é, em primeiro lugar, faze-lo com humildade e sentido de serviço. O amor não busca seus próprios interesses, mas o que agrada ao outro. São pessoas que não se deixam dominar por picuinhas, não brigam por aspectos secundários do ministério, não são vaidosos e não estão preocupados em ser melhores do que outros no que fazem. Não perdem tempo se comparando com outros, mas desejam usar corretamente os dons recebidos de Deus.  Sabem que a conversão é resultado de um trabalho de equipe, onde uns plantam, outros regam e alguém colhe. Sabem, especialmente, que o convencimento do pecado é feito pelo Espírito Santo, nada valendo nossa habilidade de comunicação ou carisma pessoal.

É importante lembrar, entretanto, que o segundo grupo não era formado por pessoas que não criam no evangelho nem por falsos mestres ensinando heresias.

Embora com motivações pouco nobres, eram crentes que proclamavam Cristo como Senhor.

Provavelmente não "se davam" muito bem com Paulo. Poderiam ser outros líderes que, vendo Paulo preso, pensaram em aproveitar a oportunidade para aparecer mais e tentar mostrar que podiam ser mais importantes para o evangelho. Talvez já houvesse "grupos", partidos, linhas ministeriais diferentes na época.

Dr. Deffinbaugh[1] chama a atenção para alguns aspectos importantes:

  • embora haja um destaque sobre as motivações erradas, é possível que os pregadores o fizessem também com motivações positivas. Afinal, criam e pregavam a Cristo. Ninguém age motivado por um simples motivo. Há uma mistura de sentimentos  - mesmo pregando por interesse pessoal (ser reconhecido como líder), há o desejo de ver o perdido salvo e convertido.



[1] Deffinbaugh, Robert L., To live is Christ: A study of the book of Philippians. Biblical Studies Press. 2000

  • o fato de estar envolvido intensamente no ministério não elimina do crente motivações carnais. As motivações erradas listadas pelo apóstolo se encontram presente nos dias de hoje também. Muito se faz no ministério eclesiástico motivado por ciúmes, brigas, contendas, inveja, entre outros. O desejo pela popularidade e pelo reconhecimento tem prejudicado a muitos.

Se olharmos com cuidado para nossas vidas poderemos ver que o autor tem muita razão.

Quantas vezes não "pedimos oração" por alguém como forma de espalhar seus fracassos ou pecados? Se sabemos de dificuldades ou lutas de outros, quantas vezes não nos apressamos em "compartilhar para edificação" com o máximo de pessoas possível?

Qual a motivação prevalente em tais casos? A restauração da pessoa ou a divulgação de seu erro? Lamentamos sinceramente seu fracasso ou nos alegramos com a queda "desse santinho"?

Mas, atenção! Lembre que tais crentes pregavam Cristo. Por isso Paulo se alegra, mesmo sabendo que muitos tentam aumentar seu sofrimento na prisão. Tais líderes achavam que Paulo ia ficar amargurado em vê-los tomando seu lugar na atenção das igrejas e do povo.

F. F. Bruce ensina: "Mas que se dirá daqueles cuja pregação não se originava de motivos sinceros, mas de um espírito de contenda, não sinceramente? É evidente que sentiam ciúmes do desempenho e prestígio de Paulo, como pregador do evangelho. Fosse o que fosse que Paulo fizesse, eles conseguiriam fazer melhor; estavam dispostos a provar que não ficariam atrás de Paulo em nenhuma realização, em nenhum aspecto. Eles julgavam (e esperavam) que as notícias a respeito do que estavam fazendo haveriam de encher Paulo de desgosto e frustração. (...) Porém, se pensaram que Paulo ficaria perturbado, ou ressentido, é que não conheciam este homem. Se fossem muito bem sucedidos na propagação do evangelho, isso seria o maior bem aos olhos de Paulo. O maior interesse de Paulo era que a mensagem salvadora, 'que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada'(2 Tess. 3:1)."[1]

Paulo não se alegraria se a pregação fosse de "outro evangelho". O que está em jogo aqui é que as motivações do pregador (qualquer crente) não são superiores à Palavra de Deus. Pregado o verdadeiro evangelho, ainda que por pessoas falhas e imaturas, o poder de Deus se manifesta e salva pessoas. De outro lado, se pregado um evangelho falsificado, nem mesmo sendo feito em nome de qualquer apóstolo importante será aceitável diante de Deus.

Deffinbaugh, já citado, relaciona três lições que podem ser aprendidas a partir desse texto:

ü       Mesmo os mais dedicados pregadores da palavra de Deus, com ministérios famosos e influentes, jamais estarão completamente livres de motivações impuras ou carnais.

Muitos crentes se decepcionam quando descobrem que líderes famosos e importantes podem ser arrogantes e orgulhosos, cheios de ciúmes e capazes de manipular as pessoas.

Devemos ter cuidado para não contribuir para colocar nossos líderes em situação difícil, tratando-os como pessoas acima do erro. Devemos respeitá-los e honrá-los, mas nunca idolatrá-los! Não são infalíveis.

Devem ser imitados na medida em que imitam a Cristo, mas não podem ser seguidos cegamente, sem discernimento.

ü       O exemplo negativo de pregadores agindo com motivações erradas deve nos ajudar a examinar nossas ações e os motivos que nos levam a agir na igreja.

Embora o exemplo seja negativo, sua presença na Bíblia nos ajuda a avaliar melhor nossas vidas. A atuação nos ministérios da igreja deve ser motivada pela busca da unidade e do crescimento harmônico, jamais pelo interesse pessoal ou pela busca de elogios.

Pregar a Cristo com humildade e espírito de serviço, como Paulo o faz, deve ser o paradigma a ser seguido.

ü       A atitude de Paulo diante de pessoas que queriam aumentar seu sofrimento na cadeia foi positivo. Mesmo discernindo motivos falsos, se alegrou com o principal - Cristo sendo pregado! Isto é um bom exemplo de colocar as questões em perspectiva correta!

O possível partidarismo existente entre os líderes em Roma não foi suficiente para que Paulo perdesse o foco no mais importante - a divulgação do evangelho. Questões pessoais e relacionadas a disputas de poder foram colocadas em segundo plano.

Focalizar nos problemas pessoais pode nos levar a esquecer que Deus tem um plano muito maior e mais abrangente. Concentrar-se apenas nos problemas de relacionamento pode nos desviar do mais importante que é ministrar a outras pessoas.

Isso não significa que tais questões não devam ser tratadas na Igreja, mas que não devem nos tirar a alegria de servir e ministrar na Casa de Deus. Colocando os problemas em perspectiva, podemos estabelecer as prioridades corretas e continuar em frente até alcançar as metas propostas.

 



[1] F.F. Bruce, Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. Ed. Vida. 1989. pág. 54.

 

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